Aprendendo a ler e escrever – Ensinando adolescentes no Espectro Autista
Para crianças atípicas existem alguns métodos pedagógicos para o auxílio da verbalização, e também no domínio do alfabeto, montar as palavras e aprender sobre os números. Um desses métodos é o “ABA” que é a abreviação para Applied Behavior Analysis que é Análise do Comportamento Aplicada, em português. Em minha experiência ensinando adolescentes no espectro autista entendi que, o método se baseia em uma aprendizagem que visa reforçar os bons comportamentos. Sendo assim, considera diversos princípios comportamentais.
Mas o que acontece após isso? Como uma criança vai passar pela pré-adolescência e adolescência em uma escola regular tendo uma série de atipicidades na aprendizagem e uma gama enorme de conteúdos?
Minha experiência com adolescentes no Espectro nas mais diversas áreas
Os conteúdos escolares do ensino fundamental II e Ensino médio são os mesmos para todos os alunos. Mas aí entra a velha pergunta. Todo mundo aprende da mesma forma? Aliás, todo mundo aprende tudo sobre tudo que é passado em sala de aula?
Na minha experiência como professora, a resposta é NÃO! Mesmo lidando com adolescentes típicos eles têm as suas preferências, escolhas, formas de fixar esse conteúdo. Alunos visuais, auditivos, táteis, uma mistura de tudo isso. E mesmo esses, precisam frequentemente de direcionamento.
Como ficam então os atípicos? Os alunos com QI limítrofe, TDAH, disléxicos e os retratados neste artigo com mais empenho, os alunos que estão no Espectro? Ou seja, não foi do dia pra noite que eu entendi que meu ego de ensinar e ser uma excelente professora foi movido pelo que o meu aluno autista precisa de fato aprender.
Um dos meus alunos que está no espectro iria fazer uma prova sobre os tipos de divisões celulares. Sejamos francos, você se lembra de todas as etapas da Mitose e da Meiose?
Desse modo, na minha ânsia de fazê-lo entender o conteúdo eu não percebi que estava infligindo nele um sentimento de angústia, perda, desânimo e por fim autoflagelação. Nesse dia uma chave virou no meu cérebro. Eu não quero e não vou ser motivo de sofrimento para meus alunos.
Eles vão aprender sim! Tudo que há de melhor, mas precisa ter uma forma deles aprenderem e além disso, eu preciso saber o que extrair de cada matéria que tenha significado para o meu aluno.
No caso da mitose e meiose, eu decidi que ele precisava saber que uma faz o organismo crescer e que a outra gera descendentes.
Meu aluno ama Harry Potter. Então, pesquisei imagens do Harry Potter bebê e dele grande, imagens dele machucado e expliquei que tanto pra ele crescer quanto pra ele se curar o processo de mitose estaria envolvido (sou Bióloga e sei que nada disso tem essa simplicidade toda, mas lembre-se, estou falando sobre um aluno que socou a própria cabeça por não conseguir entender o processo acima citado e eu não o faria passar por tamanha dor novamente).
Assim, assistimos em aula o final da saga quando Harry Potter tem filhos e expliquei que pra gente ter ovócitos e espermatozóides precisamos passar pelo processo de meiose.
Não, não é fácil abrir mão de falar sobre prófase, metáfase anáfase e telófase. Mas não é fácil pra quem?
Pra mim e pelo meu ego que grita que todo mundo precisa aprender tudo, ou pro meu aluno que vai ficar sem esse conteúdo que não fará a menor falta na vida dele?
Depois de um ano eu preparei outra tarefa sobre mitose e meiose para esse mesmo aluno. Usei o Rei Leão (pessoas no espectro geralmente têm interesses limitados, esse é outro interesse do meu aluno), ele soube me explicar qual processo era Mitose e qual era Meiose.
Nesse momento o coração da professora fica quentinho. Eu estou fazendo a diferença na vida dele, e é uma diferença, quase sempre, positiva.
Eu poderia citar outras tantas aulas elaboradas para ele e para outros alunos atípicos feitas com nosso método próprio, ensinando adolescentes no espectro autista.
Um método que preza sim pelo que ele está tendo em relação aos conteúdos escolares, mas que considera o sentimento que ele tem em relação a esse conteúdo, ao que de fato ele consegue aprender, sobre o que eu posso incluir para que ele se sinta próximo ao conteúdo saber que ele vai responder a minha pergunta não apenas com palavras, mas também por meio de desenhos. Não somos nós que incentivamos uma aprendizagem multidisciplinar?
E saber acima de qualquer conhecimento científico, que eu estou lidando com um ser humano que por vezes tem dificuldade em se comunicar comigo, de me olhar nos olhos e dizer que não entende. É ter empatia e entender que ser professora vai além de ensinar biologia, ser professora é auxiliá-lo na compreensão do mundo que o rodeia.
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Diagnosticando crianças no Espectro Autista
Para o diagnóstico de uma pessoa no Espectro Autista se faz necessário uma equipe multidisciplinar.
Dessa forma, as manifestações do Espectro Autista estão presentes desde o nascimento ou muito cedo no desenvolvimento e afetam e os comportamentos essenciais humanos como as interações sociais, a habilidade para comunicar ideias e sentimentos, imaginação e no estabelecimento de relacionamentos com os outros. Embora mecanismos precisos neurobiológicos ainda não tenham sido definidos, está claro que as expressões do Espectro Autista refletem nas operações dos fatores no desenvolvimento do cérebro.
As desordens do Autismo são únicas em seus padrões de déficit em áreas de forças relativas. Elas normalmente têm efeitos por toda a vida, sobre como as crianças aprendem a ser sociáveis, cuidar de si mesmas e participar da comunidade.
O Espectro Autista ocorre junto a uma disfuncionalidade mental e desordem de linguagem, em muitos casos. Por isso, o planejamento educacional deve olhar ambas, as necessidades tipicamente associadas com as desordens do Autismo e as necessidades associadas com o acompanhamento das deficiências.
A educação dirigida tanto ensinando adolescentes no espectro autista, quanto para os pais e professores é na verdade a forma fundamental de tratamento para as exteriorizações do espectro Autista e as necessidades associadas com o acompanhamento das deficiências.
Como a aprendizagem com o método correto pode auxiliar seu filho?
Preciso reafirmar que o processo de ensino-aprendizagem não é simples. É necessário que o professor compreenda as necessidades individuais de cada aluno e em contrapartida o aluno precisa ter vontade de aprender.
Nós, da Academia do Aprender, realizamos a gestão da rotina escolar do estudante para a promoção de uma aprendizagem significativa e para o desenvolvimento da autonomia e do hábito de estudos.
Essas questões são indispensáveis para o crescimento intelectual e psicológico do aluno, em se tratando de alunos atípicos as questões emocionais, de parceria, de conversa são incentivadas, estimuladas e direcionadas para que essa independência seja construída com ajuda da família, da escola e da nossa Equipe. Esses são algumas vivências sobre tudo o que aprendi ensinando alunos no espectro autista.
Converse com a gente e constate que uma aula dedicada a seu filho pode fazer toda diferença na animação e interesse que ele apresenta pelos estudos.
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Sobre a autora,
Daniela Camporez
Graduada em Biologia pela Universidade Federal do Espírito Santo, Mestra e Doutora em Biotecnologia pela Universidade do Espírito Santo com ênfase em doenças neurodegenerativas. Pós graduada em Educação Inclusiva pelo Centro Universitário UniAmérica. Sócia da empresa Academia do Aprender. Atua atualmente como Professora e Coordenadora da Academia do Aprender.